domingo, 1 de janeiro de 2012

Histórias cruzadas - filme



O filme "Histórias Cruzadas" lançado em 2011, é interessante. Ele foi baseado no livro "A Resposta" da autora Kathryn Stockett. Sua sinopse oficial traz a seguinte informação:

Histórias Cruzadas
Título original: (The Help)
Lançamento: 2012 (Índia, Emirados Árabes, EUA)
Direção: Tate Taylor
Atores: Emma Stone, Viola Davis, Bryce Dallas Howard, Octavia Spencer.
Duração: 137 min
Gênero: Drama

Jackson, pequena cidade no estado do Mississipi, anos 60. Skeeter (Emma Stone) é uma garota da sociedade que retorna determinada a se tornar escritora. Ela começa a entrevistar as mulheres negras da cidade, que deixaram suas vidas para trabalhar na criação dos filhos da elite branca, da qual a própria Skeeter faz parte. Aibileen Clark (Viola Davis), a emprega da melhor amiga de Skeeter, é a primeira a conceder uma entrevista, o que desagrada a sociedade como um todo. Apesar das críticas, Skeeter e Aibileen continuam trabalhando juntas e, aos poucos, conseguem novas adesões.

Apesar de provável ganhador de alguns Oscar´s, o filme é muito criticado por ser considerado cliché, e trazer a visão "de pessoas brancas" sobre os problemas enfrentados pelos negros, inclusive com uma heroína branca como protagonista da história.

Apesar do filme não se aprofundar nos problemas enfrentados pelos negros em uma época de segregação racial, ele traz alguns questionamento que nos faz pensar, e se fizermos um link do que é passado no filme com o que acontece no Brasil hoje, podemos ver que infelizmente muitas coisas que vemos no filme continua acontecendo, não somente ao que compete as pessoas negras, mas as empregadas domésticas, profissão retratada no filme.

O filme começa com a pergunta da repórter branca à empregada doméstica negra, lhe questiando como se sentia ao cuidar de tantas crianças brancas, deixando seus filhos negros em casa sozinhos.

Deixar seu filho "sozinho em casa" enquanto acompanha o crescimento de uma criança rica ou de família de melhor poder econômico, é algo corriqueiro na vida de muitas babas, principalmente daquelas que dormem no serviço e só voltam para casa no fim de semana. Algo que acontece também é a babá ter babá, porque ela precisa de alguém que cuide de seus filhos enquanto trabalha, e do salário que recebem tiram uma porcentagem para pagar esta pessoa. A diferença de quanto recebem e quanto pagam é o "seu lucro".

A repórter também pergunta a ela se pensou em ser outra coisa na vida, e ela responde que sua mãe foi empregada doméstica, sua avó escrava doméstica, ou seja, fica subtendido que ela seguia o "ramo de trabalho" da família. Também é dito que "aquelas doces crianças" que ela cuidava com tanto amor, em pouco tempo cresceriam e seriam patrões. Isso de se seguir a "profissão dos pais" ainda continua a acontecer de certa forma, não direta como foi na época do regime feudal, onde filho de sapateiro seria filho de sapateiro, mas de forma indireta, onde filhos de famílias abastadas são criados para "serem chefes", estudando nas melhores escolas e universidades, e as crianças de famílias pobres são criadas para serem empregáveis, e conseguirem um bom emprego.

Quando a ter assegurado direitos trabalhistas a empregados domésticos, luta que se apresenta no filme, ainda acontece no Brasil, e caminha a passos lentos. As empregadas domésticas vão conseguindo a "contra-gotas" ter assegurado cada direito, como ter vinculo trabalhista comprovado, carteira assinada, férias remuneradas, recolhimento de taxas como INSS pelos patrões, etc. Muitas são as empregadas que se encontram na informalidade, sendo tratadas como "diaristas" quando na realidade são empregadas fixas.

O filme retrata os maus tratos que os empregados domésticos sofrem, e esses maus tratos continuam a acontecer até hoje, e infelizmente são poucos os casos que resultam em processos na justiça. Muitos empregados ao sofrerem assedio moral de seus patrões, preferem trocar de emprego "deixando a história ruim para traz", e isso faz com que o agressor fique sem punição e continua a reproduzir seu comportamento de desrespeito.

Uma coisa que escutei de algumas empregadas domésticas, é o racismo na hora de contratação. Uma relatou a ocasião em que procurava emprego e ligou para um anuncio de jornal, e como preenchia todas as exigências pedidas e tinha ótimas referências, a "futura patroa" se mostrava muito feliz em tê-la em sua casa. No meio da conversa ela lhe perguntou sua cor duas vezes, e ela dizia que era negra, e quando estava quase tudo acertado para começar a trabalhar, a "futura patroa" perguntou sua cor pela terceira vez, o que ela já cansada respondeu "Eu já disse que sou negra para a senhora. Isso faz diferença?" Na hora a "futura patroa" pediu desculpa por ter tomado seu tempo, que ela tinha ótimas referências, mas a vaga já havia sido preenchida.

Uma outra me disse que era obrigada a alisar o cabelo ou colocar trancinhas para "conseguir trabalhar", porque senão não conseguia emprego nem de diarista. Ela não gostava de alisar o cabelo, e as trancinhas eram caras, davam trabalho e doiam muito, mas precisava fazer isto para ter "boa aparência". Ela disse que ela e a irmã demoravam mais a arrumar emprego, quando usavam o cabelo ao natural.

Mesmo que o filme não se aprofunde no que acontecia aos negros na época retratada, ainda assim traz algumas informações, e se continuarmos a compará-lo com nossos dias atuais, encontraremos muitos mais coisas que infelizmente continuam acontecendo nos dias de hoje.

Recomendo que vejam o filme.





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