sexta-feira, 23 de novembro de 2012

Suburbia traz renovação para a TV






Os negros estão conquistando seu espaço na TV brasileira. Uma prova disso é o seriado Suburbia (assim, sem acento). Diferentemente do que é comum ver em uma emissora grande como a TV Globo, a série traz renovação ao optar por um formato diferente e por um elenco formado, majoritariamente, por atores negros, que contam a história do bairro de Madureira nos anos 80.

Suburbia tem elementos de contos de fada, de documentário, de blaxploitation e de mublecore (filmes independentes americanos com atores amadores). Tem um parentesco muito próximo com o filme Cidade de Deus (2002), dirigido por Fernando Meirelles e baseado em livro de Paulo Lins, que divide o texto de Suburbia com Luiz Fernando Carvalho.

A produção conta a história de Conceição, uma criança que trabalha em fornos de carvão em Minas Gerais, onde tem como amiga uma égua chamada Rapunzel. Ainda menina, foge para o Rio de Janeiro com a roupa do corpo (e uma pequena imagem da santa que lhe dá o nome). No Rio, ela é apreendida por policiais (corruptos). Consegue fugir da instituição de menores debaixo de um caminhão, e é atropelada.

A mulher que a atropela lhe dá emprego de empregada doméstica. Conceição é estuprada pelo namorado da patroa, numa cena sonorizada com um amúsica romântica de Roberto Carlos. É no subúrbio carioca que Conceição encontra abrigo e ambiente para se tornar uma rainha dos bailes funk.

A ação ocorre no final dos anos 1980 e início dos anos 1990, mas há elementos de figurino, cenografia e trilha sonora dos anos 1970. Suburbia é uma história sobre negros brasileiros, quase uma síntese da transição da escravidão para a “libertação” transposta para o século seguinte, ou seja, uma denúncia de que a libertação, de fato, não ocorreu.

A série usa atores amadores, alguns deles “caçados” nas ruas, como a gari que interpreta a vilã. É toda filmada em locações de verdade. Repete o “método” do Neorrealismo Italiano, de Cidade de Deus, dos novíssimos e baratíssimos filmes independentes americanos (o “movimento” mumblecore).

Como no mumblecore, as falas dos não-atores dão a Suburbia um realismo maior, quase documental, reforçado pela fotografia “naturalista”, com a câmera na mão, em planos extremamente contemporâneos.

E, por fim, a trilha sonora (com Roberto Carlos, funk dos anos 1990, pagode dos 80), a temática negra, o figurino e o grafismo de Suburbia a conectam diretamente com os filmes da blaxploitation, como Shaft (1971), Superfly (1972) e o mais recente Jack Brown (1997), de Quentin Tarantino.

Erika Januza, a rainha do funk

De uma hora para outra, a vida de Erika Januza, 27 anos, mudou completamente. A até então auxiliar administrativa de uma escola em Contagem, Minas Gerais, ela virou atriz global – e logo no posto de protagonista. Erika, que sempre participou de concursos de beleza e dança, ficou sabendo por uma amiga de uma seleção em sua cidade.

“Inicialmente era uma campanha publicitária que queria negras. Fui fazer a entrevista e lá descobri que era o teste para uma série. Aí, enviei meu vídeo, fui fazer um teste no Rio de Janeiro e a resposta veio um mês depois”, diz a mineira, que deixou com 2 mil candidatas para trás.

Nos próximos capítulos, Conceição vai colher os frutos de ter sido eleita a Princesa do Subúrbio no baile funk de Madureira. Depois, ela investirá no samba e se tornará rainha de bateria de uma agremiação. Mas se a personagem inicia uma virada, Erika já sente a repercussão nas ruas. “Até mesmo antes de estrear, as pessoas já começaram a falar comigo e sempre críticas boas, graças a Deus. Muita gente mandando mensagem dizendo que ficou feliz com meu exemplo, que já estava pensando em desistir da carreira. Fiquei muito feliz com isso”, conta.

Do outro lado, os críticos especializados fazem coro e elogiam a série, que tem registrado bons índices para o horário em que é exibida – na faixa da 0h. A média tem sido na casa dos 14 pontos.
A série de oito episódios termina no dia 20 de dezembro, mas há possibilidade de uma nova temporada.


Fonte: Revista Afro



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