segunda-feira, 15 de outubro de 2012

Cota para negros e o caso do Ministro Joaquim Barbosa





Estava lendo no BOL a matéria sobre a criação de cota para negros no serviço público, que deve ser aprovada pela presidente Dilma nos próximos dias. Eu concordo com a criação da cota, achando mesmo que ela veio tarde. Já deveria ter sido feita há muito tempo, junto com a criação de cota nas universidades que também veio tarde. A dívida do Brasil com a população negra é grande. Desde a abolição da escravatura ela não foi paga, pelo contrário só aumenta, pois ainda vivemos em uma sociedade racista onde os negros possuem menos oportunidades que pessoas brancas. 

No BOL há 103 mensagens de sobre a criação desta cota. Umas 75 são de pessoas brancas achando que essa cota é “racismo”, pois privilegia negros em detrimento de brancos; umas 20 pessoas são negras ou se dizem afrodescendentes, mas elas não concordam com a cota porque ela deixaria os negro em uma posição ruim, pois supõe que os negros não possuam a mesma capacidade intelectual que uma pessoa branca para passar em um concurso; umas 5 pessoas a meu ver “mais esclarecidas”, lembram que as cotas são uma forma de reparação a desigualdade existente hoje. Eu também deixei minha opinião a favor da cota. 

Na calorosa discursão, muitos defendem que se houver uma cota para negros no serviço público a qualidade dele vai piorar, pois um negro “não qualificado” pegaria o lugar de um branco melhor preparado – o mesmo discurso que ouvimos com as cotas nas universidades, onde se dizia que os “negros despreparados” não acompanhariam o ritmo das aulas, que por consequência se tornariam “mais fracas”, o que se mostrou posteriormente estar errado, pois os alunos cotistas tiveram um bom desempenho acadêmico, muitas vezes superior aos não cotistas. Outros defendem a criação de uma cota social, que privilegiasse pessoas pobres e não só pessoas negras. Se as pessoas que defendem a cota social tivessem o hábito de acompanhar pesquisas, saberiam que homens e mulheres negros ganham menos que homens e mulheres brancos; que mulheres ganham menos que homens e que uma mulher negra ganha menos que uma mulher branca. 

No fim, o que eu mais lamento era ver citado tantas vezes o caso do Ministro Joaquim Barbosa, que foi eleito esta semana presidente do STF (Supremo Tribunal Federal). Quem era contra a cota se valia do fato dele ter sido um rapaz negro e pobre, que não foi beneficiado por nenhuma cota e mesmo assim chegou a Ministro do STF e agora é presidente. Ele se tornou “justificativa” para dizer que não há racismo no Brasil, que as oportunidades são iguais para todos e que um negro e um branco possuem a mesma chance de serem bem sucedidos, desde que se esforcem. 

O Ministro Joaquim Barbosa merece todo o nosso respeito. É alguém que se esforçou, lutou contra as adversidades e “conseguiu chegar lá”, mas ele é uma exceção. Quantas pessoas não estão lutando todos os dias arduamente, não conseguindo ao menos comprar comida? A questão não pode ser resumida só a esforço pessoal. 

Espero que o mais rapidamente possível a presidenta Dilma aprove a cota para negros no serviço público. Isso ajudará a revelar muitos mais Joaquins Barbosas. 


Para ver a reportagem no BOL e os comentários acesse: 


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